SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Ele estava muito desorientado e agitado. Não estava mais conseguindo falar as coisas. Só falava que queria sair dali [do hospital]”, diz Fernanda Lombardi, 50, sobre o irmão Marcelo Macedo Lombardi, 45, um dos três mortos por intoxicação com metanol na Grande São Paulo.
“Se eu perguntasse qualquer coisa para ele, ele não conseguia responder uma frase congruente com o assunto. Estava desesperado para sair dali [do hospital]. Ele estava muito fora de si”, afirma.
Marcelo era advogado, especialista em direito imobiliário, e dono de uma imobiliária em São Bernardo do Campo. Ele começou a sentir os primeiros sintomas na sexta-feira (26) e deu entrada no Hospital São Bernardo no sábado (27), apresentando visão reduzida e enxergando apenas clarões de luz, segundo a irmã.
Ele morreu no domingo (28), por volta das 15h, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. Ele deixa a mãe, de 73 anos, a esposa e três irmãs.
A irmã conta que, no sábado pela manhã, recebeu uma ligação da cunhada dizendo que Marcelo acordou conseguindo enxergar apenas um clarão. A mãe e a esposa o levaram imediatamente ao hospital.
Fernanda chegou ao hospital por volta das 14h daquele dia e entrou em contato com os médicos para entender melhor a situação. “Estava tudo confuso. Ninguém explicava direito o que estava acontecendo.”
“Falaram que os exames estavam muito alterados e que era uma suspeita de intoxicação por metanol. Disseram que não era o primeiro caso com esses sintomas e já estavam em alerta”, diz Fernanda.
Exames de sangue confirmaram a intoxicação por metanol, mas quando o resultado chegou, Marcelo já não conseguia responder os questionamentos sobre onde consumiu a bebida.
Os médicos decidiram intubar Marcelo e planejaram realizar uma hemodiálise, mas como o quadro não se estabilizava, não conseguiram executar o procedimento.
Ele foi encaminhado para UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde passou a noite. No domingo pela manhã, o quadro continuava instável.
“Os médicos falaram que ele precisaria ser intubado de novo, mas com um tubo maior, para poder fazer um outro tipo de hemodiálise, que talvez ele pudesse resistir”, conta.
Formada na área da saúde e com experiência como instrumentadora cirúrgica, Fernanda optou por chamar as outras irmãs e a mãe antes que os médicos seguissem com a segunda intubação.
“Perguntaram se autorizávamos a intubação, porque tinha riscos. Na segunda intubação, ele teve uma parada cardíaca e morreu. O médico falou que os órgãos já estavam falhando”, afirma Fernanda.
A família não sabe detalhes exatos sobre quando e onde Marcelo consumiu a bebida contaminada.
“Na quinta e na sexta ele fechou a imobiliária, onde a gente trabalha, e foi pra casa. Se ele se encontrou com alguém num bar ou comprou uma garrafa, não foi longe de casa nem do trabalho. A gente mora no bairro Jardim Santa Emília e trabalha no bairro ao lado, no Jardim Santa Cruz. São seis minutos de distância”, diz Fernanda, que acredita que a intoxicação ocorreu por uma garrafa de vodca.
Segundo Fernanda, a polícia já realizou uma autópsia e solicitou o celular e os cartões de Marcelo para verificar os extratos e identificar se houve compra em alguma adega.
“Ele tinha uma garrafa de vodka em casa, mas ainda não sabemos se a bebida consumida foi essa. Ela vai ser enviada para análise”, diz.
“Ele era o caçula da família. Um ser humano incrível e todo mundo achava isso dele. Não acredito que perdi essa pessoa incrível.”
O metanol é um produto químico industrial, altamente tóxico e impróprio para consumo humano. Mesmo pequenas quantidades podem ser fatais. Como se parece com o álcool comum, pode causar sensação de embriaguez e náusea antes de provocar efeitos graves.
A contaminação de uma bebida alcoólica por metanol tende a acontecer em casos de falsificação do produto, uma vez que a substância tóxica pode estar presente em álcool adulterado ou mesmo ser adicionada para aumentar o teor alcoólico de forma mais barata.
Desde junho deste ano, foram confirmados no estado seis casos de intoxicação por metanol com suspeita de ligação ao consumo de bebida alcoólica adulterada. Há também dez casos sob investigação, dos quais três resultaram em mortes, incluindo a de Marcelo –a causa dos óbitos foi intoxicação por metanol, mas ainda não está confirmado se o consumo se deu por bebida adulterada.
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